Nosso olhar para a saúde mental frequentemente se assemelha à rede de um pescador: pegamos apenas aquilo para o qual nossa malha está preparada. Se a rede tiver espaços muito pequenos, apanhamos tudo, até o que não deveria estar lá. Se for muito grande, deixamos escapar peixes importantes. Mas e se estivermos pescando apenas em um pequeno lago, ignorando o oceano vasto que se estende diante de nós?
Por décadas, nossa rede de compreensão sobre os transtornos mentais tem sido moldada quase exclusivamente pelos modelos psiquiátricos tradicionais. Diagnósticos baseados em sintomas nos levam a tratamentos farmacológicos, muitas vezes sem considerar que essas manifestações podem ter origens fora do que estamos acostumados a investigar. Entre os peixes que escapam por essa rede limitada está um fator essencial e frequentemente negligenciado: a nutrição.
Deficiências nutricionais podem mimetizar transtornos mentais de maneira tão convincente que o olhar apressado, treinado apenas para enxergar os padrões convencionais, não as percebe. A carência de vitamina B12 pode se apresentar como depressão, ansiedade e declínio cognitivo. A insuficiência de magnésio pode levar a sintomas que lembram transtornos de pânico. A falta de ferro pode gerar fadiga, irritabilidade e dificuldade de concentração, sendo facilmente confundida com transtorno de déficit de atenção.
A questão que se impõe é: por que não estamos sequer considerando essa possibilidade em nossas avaliações clínicas? Por que o paradigma biomédico, que tanto se fortaleceu com o avanço da neurociência e da farmacologia, ainda trata a nutrição como uma variável secundária, quase irrelevante, no campo da saúde mental?
Nossa cegueira é, em grande parte, uma questão de formação e cultura profissional. Durante anos, os currículos acadêmicos de psicologia e psiquiatria deram pouca ou nenhuma atenção à bioquímica e ao metabolismo dos nutrientes. Como resultado, a maioria dos profissionais não aprendeu a observar a influência da nutrição no funcionamento cerebral e no equilíbrio emocional.
No entanto, à medida que novas pesquisas emergem e a ciência da nutrí-neurociência se fortalece, estamos sendo chamados a alargar nossa rede. Precisamos ajustar as malhas da nossa compreensão para capturar um espectro mais amplo de influências sobre a saúde mental. Isso significa olhar para além dos neurotransmissores e incluir os nutrientes que os sustentam, considerar além dos sintomas a história metabólica de cada indivíduo e abrir espaço para um modelo verdadeiramente integrativo da saúde mental.
Não se trata de descartar abordagens consagradas, mas sim de expandir a visão. Como pescadores do conhecimento, devemos refinar nossas redes para que possamos capturar não apenas aquilo que já conhecemos, mas também o que, até agora, tem escapado despercebido sob a superfície da nossa investigação clínica. Somente assim poderemos oferecer um cuidado mais completo e eficaz a quem busca ajuda.